A geração Alpha, formada por jovens nascidos a partir de 2010, já começa a ingressar formalmente no mercado de trabalho brasileiro. A legislação permite que adolescentes a partir dos 14 anos sejam contratados como aprendizes, com jornada de até seis horas por dia, desde que conciliem com os estudos. Desde 2024, empresas já registram os primeiros profissionais dessa geração em ambientes corporativos.
Empresas que apostam na contratação de jovens aprendizes relatam experiências positivas. A empresária Katia Machado, da Nautiluz, contratou dois profissionais da geração Alpha para apoio administrativo e destaca: “Aprendem rápido e demonstram muito interesse em crescer na empresa”.
As cinco gerações no ambiente corporativo em 2025
O mercado de trabalho brasileiro vive um momento inédito: cinco gerações atuando simultaneamente. Segundo Fernando Brancaccio, sócio-diretor da FairJob, essas gerações são:
- Baby Boomers (1946–1964): leais, resistentes a mudanças e acostumados com estruturas hierárquicas
- Geração X (1965–1978): adaptável, com comunicação informal e desconfiança da autoridade
- Millennials (1979–1990): conectados, buscam propósito e desenvolvimento pessoal
- Geração Z (1991–2010): nativos digitais, multitarefa, desejam autonomia e flexibilidade
- Geração Alpha (a partir de 2010): hiperconectados, socialmente engajados e com alto domínio tecnológico
A chegada da geração Alpha promete intensificar mudanças já iniciadas pela geração Z, especialmente no uso da tecnologia, na valorização da diversidade e na busca por ambientes colaborativos e inclusivos.
Perfil da geração Alpha: tecnologia, propósito e agilidade
Especialistas apontam que a geração Alpha será marcada por características únicas. Segundo o pesquisador Joaquim Santini, com passagens por Harvard, Unicamp e Insead, esses jovens combinam inteligência emocional, pensamento crítico e habilidades digitais com um forte senso de justiça social.
Pesquisas da McCrindle Research e do World Economic Forum indicam que essa geração é moldada por uma educação digitalizada e por um ambiente altamente tecnológico. Entre os principais traços estão:
- Alta capacidade de aprendizagem autônoma
- Adaptação a tecnologias emergentes, como inteligência artificial, realidade aumentada e big data
- Maior sensibilidade a temas como diversidade, inclusão e sustentabilidade
Diferenças entre geração Z e geração Alpha
Embora ambas sejam nativas digitais, existem diferenças importantes. A geração Z cresceu com o avanço da internet e dos smartphones, enquanto a geração Alpha nasceu em um mundo totalmente conectado, onde tecnologias como assistentes de voz, realidade aumentada e Internet das Coisas fazem parte do cotidiano desde os primeiros anos de vida.
Estudos do Pew Research Center e da Deloitte mostram que a geração Z valoriza autonomia e flexibilidade, com grande preferência por modelos de trabalho remoto. Já a geração Alpha tende a buscar empregos com propósito, bem-estar emocional e impacto social. Segundo Santini, “os líderes do futuro precisarão entender que essa geração não será atraída apenas por salário, mas por ambientes éticos, tecnologicamente atualizados e emocionalmente seguros”.
Profissões promissoras para a geração Alpha
Com base em estudos da World Economic Forum, Stanford University e Harvard Business School, algumas áreas devem se destacar para os jovens da geração Alpha:
- Tecnologia e inovação: desenvolvimento de software, inteligência artificial, machine learning
- Sustentabilidade e meio ambiente: engenharia ambiental, energia renovável
- Saúde e biotecnologia: pesquisa genética, terapias avançadas, telemedicina
- Educação e aprendizagem contínua: produção de conteúdo educacional digital, inovação pedagógica
- Marketing digital e mídias sociais: gestão de influenciadores, criação de conteúdo multiplataforma
- Empreendedorismo e impacto social: startups voltadas à tecnologia verde e inovação social
O domínio precoce da tecnologia e a exposição a temas ambientais e sociais tornam essa geração especialmente apta a lidar com áreas interdisciplinares e profissões que exigem empatia, inovação e resolução de problemas complexos.
Desafios para as empresas que contratam a geração Alpha
Atrair e reter talentos da geração Alpha exigirá mudanças na cultura organizacional. Segundo Fernando Brancaccio, será necessário repensar a comunicação interna, os modelos de liderança e os pacotes de benefícios. As empresas precisarão adotar uma comunicação transparente, investir em tecnologias que sirvam ao humano e dar atenção genuína ao bem-estar emocional dos colaboradores.
Entre os pontos de atenção para gestores e profissionais de RH estão:
- Estruturação de programas de aprendizagem e desenvolvimento contínuo
- Incentivo à inclusão e valorização da diversidade geracional
- Adoção de tecnologias colaborativas e ambientes de trabalho híbridos ou remotos
- Apoio à saúde mental e à construção de propósito dentro da empresa
Comunicação e liderança no futuro do trabalho
Para dialogar com a geração Alpha, as empresas precisarão se posicionar de forma clara em temas como ética, sustentabilidade e equidade de gênero. Ambientes rígidos e hierarquizados tendem a ser rejeitados por esses jovens.
A liderança será mais horizontal, com foco em mentoria, escuta ativa, feedback contínuo e apoio ao crescimento pessoal. Brancaccio destaca: “É uma geração que quer ser ouvida desde cedo e participar das decisões. A escuta ativa será tão importante quanto o pacote de benefícios”.
A chegada da geração Alpha ao mercado de trabalho marca o início de uma nova era nas relações profissionais. Com competências digitais elevadas, engajamento social e uma nova forma de enxergar o trabalho, essa geração trará transformações profundas para empresas, gestores e profissionais de todas as idades.
O desafio será promover a convivência produtiva entre diferentes gerações, equilibrando experiência com inovação e tradição com propósito. Para isso, será essencial repensar práticas de recrutamento, cultura organizacional e modelos de liderança.